Artigo

O feijão com arroz da publicidade

Lendo este post sobre a campanha deste ano do dia das mães da Claro, refleti sobre os estereótipos que nós publicitários reforçamos de forma inconsciente (ou não) sobre algumas categorias.

Para quem, por acaso, ainda não assistiu à campanha que me refiro, segue o vídeo abaixo:

À primeira vista, a maioria se distrai com as belas imagens e nem analisam o texto narrado pelo locutor (leia os detalhes aqui). Mas tem gente como Taís (a autora do post linkado) que tem capacidade de tirar a frágil máscara de emoção do comercial e ver a sua verdadeira face marcada de clichês e senso comum sobre a figura da mãe: mulher descendente de Amélia, que está pronta para servir ao seu marido e filhos com um sorriso mais branco que a roupa lavada no tanque pelos seus punhos.

Mas não é só nesse período do ano que isto acontece. Quem não está careca de assistir no Natal comerciais com ceias realizadas em casas gigantescas, com todos os parentes felizes e satisfeitos de estarem reunidos para comer chester, enquanto neva na rua? É assim que os brasileiros comemoram o período do Papai Noel?

Esse desfile de lugar-comum pode ser em parte creditado na vontade do cliente em não sair da zona de conforto, de continuar uma espécie de tradição no seu jeito de anunciar. Já a outra parte é responsabilidade da própria agência, que não encontra bons argumentos para defender a veiculação daquela idéia mais ousada. E assim, vemos o intervalo comercial ser transformado em um “Vale a Pena ver de novo” (ou não) nas principais datas comemorativas do ano.

Claro que existem soluções para mudar este cardápio. Mas é bom pensar rápido, pois um dia o público vai se cansar de comer feijão com arroz e pedir carne nova. A questão é: a sua agência e seu cliente estarão prontos para isso?

Deixe seu recado

1 Comentário

  1. Muito bem colocado!
    Eu já havia lido esse post da Ombudsmae e fiquei refletindo sobre isso também.
    Por que hoje em dia os anunciantes estão perdendo a criatividade que tinham antigamente?
    E não é só nas datas comemorativas, não. Em muitos outros casos eles também estão apelando para o clichê.

    Isso também é notado e condenado pelo Marcello Serpa, na “Carta do Presidente – Sobre Rigor e Futuro”, que ele postou no CCSP. Ele diz “Que hoje, comparado com o passado, são muito poucas as agências que realmente procuram vender um produto criativo, diferenciado e surpreendente para todos os seus clientes e veiculá-lo.”
    E que muitos não entendem que isso está desvalorizando nossa profissão.

    Acredito eu, que falta critério de muitos publicitários, com seu ego inflado, para julgar seus próprios trabalhos e o de suas agências. Não estou dizendo que é um trabalho fácil, mas digo que poucos estão se preocupando em fazê-lo.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.